Ouça sua música

O Metrônomo é tão importante como o gravador.

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    Nos anos 2000, quando iniciei prematuramente minhas atividades profissionais na orquestra do Theatro da Paz, ficava encantando com as possibilidades de cores sonoras que uma orquestra poderia oferecer. Nessa época, eu atuava quando havia repertório para quatro trompas, eu fazia a terceira trompa. Em concertos em que o repertório tinha apenas duas trompas, eu fazia questão de ir aos ensaios para contemplar essa paleta de cores, ficava sentado observando e ouvindo aqueles músicos, que por sinal, eram excelentes músicos.

       Acredito que a melhor fase da Orquestra foi nesse período, com a chegada de diversos artistas europeus na capital paraense. Para situar o leitor,  segundo o livro escrito pelas professoras Lilian Barros e Lia Braga, que tem como título “Instituto Estadual Carlos Gomes. 120 anos de história”, o conservatório em Belém, foi fundado em 15 de agosto de 1895 e desde aquela época o corpo docente em sua maioria era composto por músicos estrangeiros e brasileiros, formados na Europa. Passados quase cem anos, o conservatório ainda carecia de professores especialistas na área de sopros e cordas. Em 1990, a professora Glória Caputo, como superintendente da Fundação Carlos Gomes, iniciou o convênio com alguns países como a Bulgária e a Rússia.

     Mais precisamente em 1994, desembarcaram na cidade das mangueiras os seguintes artistas: Igor Kopatchevsky (flauta), Constantin Gorochenko (oboé), Oleg Andreev (clarinete), Vadim Klokov (fagote) e Serguei Dorokhov (trompa), atuando como professores no Conservatório e integrando a orquestra sinfônica do Theatro da Paz. Além destes tínhamos também outros professores como Serguei Firsanov, (viola), Eugene Ratchev, (violino), Haralampi Mitkov (viola), Petar Saraliev (cello) e Marin Iliev (contrabaixo). Sendo este grupo de cordas,  a primeira orquestra da Câmara do Pará. Na sessão de metais estavam os professores Barry Ford (trompete), Ricardo Cabrera, (trombone) e na trompa os seguintes professores: o primeiro professor estrangeiro Stanislav Schulz, posteriormente o Serguei Dorokhov, Chromácio Leão e o alemão Holger Kunze. Não listei todos os artistas que vieram, alguns deles passaram pouco tempo por não se adaptar ao clima e também por conta da dificuldade do idioma. 

    Agora você deve imaginar o nível musical dessa época. Os festivais eram intensos e marcantes. Ainda me lembro de ir ao teatro para assistir a Orquestra Sinfônica do Festival com o uniforme do conservatório (de calça jeans básica e camisa branca com o emblema do CCG). Ficávamos a tarde inteira participando dos Masterclasses e recitais no Conservatório, e à noite íamos a pé para o Theatro da Paz. Bons tempos!

   Esses professores foram importantes para a vida musical em Belém, formaram e influenciaram diversos músicos que hoje atuam como profissionais na capital paraense e em outros cantos do país. 

     Voltando ao tema deste artigo, ainda atuando na orquestra, nesta mesma década, adquiri os primeiros telefones celulares que possuíam uma câmera. Comecei com a famosa marca NOKIA, a partir dali por ingenuidade ou algo assim, comecei a gravar meus estudos com o meu celular, que até então ainda não era chamado de smartphone. Como eu era solteiro, morava com os meus pais e os meus primeiros salários na orquestra – que eram R$ 200,00 – sempre que lançava um celular Nokia com uma câmera melhor, eu ia lá na velha yamada e comprava. Fiz isso durante um bom tempo…

     Um marco para a Nokia e pra mim, foi o lançamento do n95, que tinha a melhor câmera do mercado com 5 megapixels. Era impressionante a qualidade. Com o n95, gravei muitos estudos do famoso método Maxime Alphonse. Na sala de trompa no CCG, sentava ao piano, espetava o fone de ouvido e passava bons tempos ouvindo e analisando meus estudos. Cheguei a gravar em vídeo, trechos curtos da orquestra, e ali para a minha surpresa não conseguia ouvir claramente o naipe das trompas. Foi a primeira vez que pude ter um feedback claro da gravação do n95. Evidente que até hoje, nenhum smartphone e tão pouco o N95 possui características como a de um gravador profissional. Porém, na época era o que tinha de mais moderno por essas bandas aqui…e mesmo que a captação não fosse fiel, aquelas gravações passavam para os meus ouvidos algum feedback. 

    Dos anos 2000 até hoje, continuo a investir em equipamentos de gravação. Antigamente, gravar um Álbum requeria milhares de reais com horas de estúdio. Hoje com equipamentos portáteis e modernos, é possível gravar um Álbum para as plataformas gastando consideravelmente menos, e dependendo do investimento, é possível até gravar em casa, como é comumente chamado hoje: homestudio. 

    Há pesquisas que apontam que a gravação auxilia o músico. Particularmente, utilizo essa ferramenta como um instrumento de análise. Klickstein no seu livro The Musician’s Way: A Guide to Practice, Performance, and Wellness, que traduzindo seria O Caminho do Músico: Um Guia para a Prática, Performance e Bem-Estar, … afirma essa linha de pensamento:

   “Gravar uma parte de sua prática aprimora sua musicalidade, pois você pode avaliar todos os aspectos do seu som com um ouvido imparcial. Seja gravando uma única frase ou uma peça completa, você pode se afastar e ouvir a música como se outra pessoa a tivesse executado. Em seguida, você pode aperfeiçoar sua execução de acordo com suas percepções” (KLICKSTEIN, 2009, p. 16).

     Atuando nessa prática de gravações por mais de 10 anos, avalio que um aparelho portátil de gravação deveria ser tão importante para o instrumentista, assim como o metrônomo, que é um dispositivo indispensável.

    Ao tocar uma peça, percebo que muitos processamentos ocorrem no cérebro ao mesmo tempo. Por exemplo, um instrumentista precisa processar capacidades como: decodificar um texto musical, interpretar nuances musicais, traduzir textos (italiano, inglês, russo, espanhol, alemão e francês), sincronizar respirações, gerenciar fluxos de ar (quantidade e velocidade de ar), controlar a pressão entre os lábios, a posição da língua (vogais A, O ou I), digitação na mão esquerda, a utilização da trompa em fá ou si bemol, posições alternativas do instrumento, afinação, percepção, posição da mão direita e claro, a audição daquele trecho. 

    Naturalmente ao realizar todas essas etapas ao mesmo tempo, percebo que o instrumentista com pouco tempo de experiência, acaba deixando o processamento da audição de lado, ou seja, por vezes durante minhas aulas ocorre o seguinte quadro: o aluno toca uma determinada passagem e ele não percebe que errou uma nota, isso se dá por algumas questões: ou esse aluno não buscou intimidade com aquela obra/estudo; ou a sua concentração/processamento está em cima de outros elementos citados acima, deixando a sua audição descuidada, praticamente ele não consegue perceber/ouvir o que está tocando.  Muitas vezes esse aluno ainda me pergunta se eu tenho certeza de que ele se equivocou no trecho. Acredito que isso ocorre justamente por conta de vários processamentos que ocorrem ao mesmo tempo. Essa habilidade é adquirida apenas com anos de estudos de forma consciente, com auxílio de um bom professor. Mesmo um músico profissional com larga experiência precisa estar atento a essas particularidades da performance. 

   Por conta disso, acredito que o dispositivo de gravação nos mostra realmente como tocamos, como estamos soando, o que pode auxiliar na formação desse instrumentista. Essas tecnologias têm se mostrado eficientes para auxiliar no processo de autoavaliação, fornecendo informações valiosas para o aprimoramento pessoal e profissional, e caso você ainda não tenha , sugiro que você conheça a marca japonesa Zoom Corporation, que particularmente acho uma das melhoras empresas que desenvolvem dispositivos e periféricos de gravação de áudio. 

    Ao gravar, analise como você está soando, verifique qual é a proposta sonora para uma determinada obra. Não adianta tocar com um grande som numa peça barroca ou vice-versa. Verifique o seu ritmo, notas precisas, sua afinação, sua dinâmica. Grave com o mic perto de você e depois grave com o mic distante como se fosse alguém sentado na platéia e analise como está soando. Se você está na orquestra/banda, perceba como soa o naipe, está equilibrado? pode ter mais gordura sonora? Passagens com notas rápidas tendem a soar “mal explicadas”, pense nesses detalhes também. Pense e reflita em todas as possibilidades em que você pode melhorar a sua performance. Use esse recurso para aprimorar, lembre-se que estamos na era digital e tecnológica, das redes sociais, ou seja, se mantenha atualizado.

    Finalizando esse artigo, para iniciar essa nova jornada no universo do áudio, recomendo o gravador Zoom H1n, que já possibilita uma gravação com fidelidade e com qualidade de CD. 

No seu pack de estudos, além do metrônomo/afinador e outros acessórios, deixe um espaço para o seu gravador Zoom H1n. 

Referências 

BARROS, Líliam; VIEIRA, Lia Braga. Instituto Estadual Carlos Gomes: 120 anos de história. Belém: Programa de Pós-graduação em Artes da Universidade Federal do Pará, 2015.

KLICKSTEIN, Gerald. The Musician’s Way: A Guide to Practice, Performance, and Wellness. Oxford: Oxford University Press, 2009.